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sexta-feira, 2 de dezembro de 2022

Saudades

 Hoje foi um dia de muita saudade e acabei voltando aqui neste espaço, que nem é mais tão usual, mas fiquei saudosa de um tempo em que digitar aqui as palavras que dançam em minha mente aliviavam a alma.

Senti saudade de tudo, das pessoas daquele tempo, da alegria que vivia em mim, do amor que tinha pelo homem da minha vida, senti mesmo saudade de mim. Do meu olho cheio de esperança, de um certo cheiro de cigarro misturado com bala Halls, mesmo que eu odiasse cigarro, senti saudade do meu corpo mais forte e com mais colágeno, saudade da minha ingenuidade, das noites mal dormidas, das borboletas no estômago, da correria agoniada, dos suspiros, dos sorrisos, mas, sobretudo, senti saudade de mim.

Saudades dos sonhos que eu acreditava que iam se realizar, saudades de fazer planos de viagem e de vida, saudade da confiança que eu sentia na sorte e no amanhã.

Muitas saudades. Saudade que tem nome, mas não tem mais endereço. Saudade do que foi embora e não teve chance de se concretizar. Só saudade.

Tanta saudade que vim aqui, nesse blog, onde ninguém mais escreve, nem segue, só pra registrar e esquecer da saudade.

E é isso! Vim escrever sobre a saudade de ter, de ser, para quem sabe, deixar partir e seguir.

Coisa que só entende quem sente saudade e eu sinto, muita.



quinta-feira, 21 de dezembro de 2017

Mais uma volta em torno do sol


Escrito em 11/12/2017

Eu ando silenciosa. Dizem que quando Serpente silencia é pra dar um bote, mas às vezes é só pra reunir forças mesmo.
Ontem completei mais uma volta em torno do sol, mais uma primavera. É interessante que apesar do calor, nasci na primavera e eu gosto disso. Sagitariana assumida, apesar de muitos planetas em Virgem, tenho nas relações de afeto uma grande força. As pessoas que amo são uma força importante e as prezo imensamente.
Já há algum tempo venho prezando por ritualizar cada experiência na vida e, neste sentido, ritualizar tem muito mais a ver com estar atenta ao que se sucede à minha volta e poder celebrar cada momento do que outro simbolismo.

Eu sou uma serpente, não é à toa que ali entre parênteses ao lado do meu nome no Facebook eu pus “Najy”, é uma brincadeira, na verdade um trocadilho,  que reúne Nany e Naja. Sendo eu uma serpente que em muitas culturas tem a ver com transformação, minha vida é regida por ciclos. Nessa trajetória de eterna transição há alguns anos meu desafio é me apropriar deles para não ser engolida.

Ritualizar, para mim, é celebrar cada ciclo, seja ele feliz ou um pouco mais desafiador.

Ontem decidi que seria um dia diferente, acordei antes do povo de casa e fui celebrar o sol do dia do meu nascimento, estava lindo, agradeci em prece, as preces que conheço e que estão internalizadas nos meus ciclos. Depois disso, comecei o dia com música e zueira da parte de minha mãe. Fui tb ler cada mensagem que chegava por diversas vias, respirei e senti o abraço em cada um delas.

Bebi cada palavra dirigida a mim, tomei cada segundo que me foi presenteado através da escrita. Li cada coisa boa, cada sentimento bom, em textões, em textinhos, em abraços com poucas palavras fui sentindo cada coisa.

Percebo cada vez mais o quanto toco e sou tocada pela alma dos meus amores, me surpreendi com a intensidade de algumas palavras, na verdade com a reciprocidade do carinho que sinto e nem sempre comunico. Porque eu pareço durona, mas sou uma manteiga derretida. Nós, Centaurinas, usamos o casco como proteção porque o coração é leve e viajante.

É maravilhoso sentir a harmonia de amar e ser amada, compreender que os ciclos se manifestam nisso também. É incrível viver em consonância com nosso coração e ontem foi só isso que senti.

É claro que eu gostaria que todos os meus amigos estivessem comigo, toda a minha família, toda gente que eu amo, mas também aprendi que não se pode ter tudo e amo o que tenho e da forma que tenho. E é tanto amor que acolhe a alma que eu só anotei os nomes dos que não estavam comigo à lápis (hahahahahaha), ou seja, ainda há tempo de se redimir.

Bem, eu queria dizer que sou muito grata por todas as formas de amor que recebo, por cada manifestação de carinho, por cada pessoa que eu tenho nessa vida: minha família, meus amigos e amigas, meus irmãos e irmãs de axé que permanecem aqui, meu amor que hoje é meu amigo querido, minhas queridas Lobas, as amigas que estou conquistando pela estrada acadêmica, as pessoas que conquistei pela escrita, pelos vídeos, por ser quem sou. Me sinto realmente abençoada com a presença de todas as pessoas.

Que no próximo ciclo continuemos juntas/os e que eu possa ter mais de vocês comigo, porque realmente isso é cada vez mais importante pra mim.

Obrigada por deixarem minha vida mais feliz!

domingo, 17 de dezembro de 2017

Saudade: uma estrada

Tenho saudades de coisas que nunca foram. Também tenho saudade daquela que fui há tempos atrás, esse tempo pode ter sido ontem, há cinco anos ou da menina de tranças e muitos sonhos que fui um dia. 

Conservo todas elas aqui, mas nunca escondi que sou feita de ciclos, “Mulher Mutante”, Serpente em constante mutação. E sendo essa espiral ascendente, às vezes sempre, outras vezes pouco, sinto falta de mim, de pessoas, de cores, amores, poesias, de esperanças que já não tenho, eu sinto saudade.

Não é que eu me arrependa de quem sou, nem que eu queira voltar ao passado. Não! O passado é um lugar que não me pertence, sou mulher do agora e prezo o que construo nessas trilhas. Mas há uma beleza no colorido que o hoje dá ao ontem que é difícil descrever.

Hoje eu sou outra, mais sábia, mais livre, mais eu e olhar pra ontem me faz perceber a ternura de alguns momentos, de alguns encontros, me faz querer abraçar aquela moça e dizer: “aproveita, isso também vai passar.”  porque sei que a mulher que sou hoje não viveria quase nada do que vivi ontem.

São outras experiências, outras construções e desconstruções.

Pois é, tem dias que acordo assim, são dias em que estou saindo de mais uma casca, sem saber muito o que há por vir, dias em que estou com medo, com esperança, comigo.

Mas voltar pra casca, voltar o tempo, voltar não é opção. A única estrada é para frente, ao lado de quem a gente ama e de quem nos ama. Em frente e junto.

Eu amo aquela música do Renato Teixeira, Tocando em frente, gosto na voz do Almir Sater, tem uma sabedoria simples e bonita nela quando ela diz “estrada, eu sou”.

Ser estrada não é simples, não é viver de passagens, é agregar cada passo à sua trajetória, aprender com cada um deles ainda que não vá repetir nenhum deles, porque a vida, assim como o tempo, não pára, assim disse outro poeta.

Por isso que tudo passa e o que nos significa são as saudades que temos. Saudade é memória doce, amarga, afetiva, seletiva, saudade é história, saudade é o que conta os passos que caminhei nessa estrada sendo sou eu mesma.

quinta-feira, 5 de outubro de 2017

Corpos que importam

Publicado originalmente na maravilhosa Revista Vertigem, em 16/01/2017.

É com muito prazer que escrevo pela primeira vez neste espaço que tanto admiro, a revista Vertigem, uma revista feminina em todos os sentidos, feita por e para mulheres. Sinto-me grata por trazer minha voz e meu corpo negro para este espaço, não por crer que posso representar a totalidade de pessoas negras ou das mulheres negras, realmente não creio que isso seja possível, mas por acreditar que meu corpo e minhas palavras carregam muito mais do que meu ego limitado, e, sendo assim, meu corpo negro abre espaço para que muitas outras mulheres negras possam se identificar ou não, possam querer falar em consequência disso e abrir um espaço de compartilhamento de saberes muito importante para toda e qualquer reflexão e para nosso crescimento individual e coletivo. E é com esse sentimento que trago uma reflexão que tem dormido e acordado comigo nos últimos tempos. Diante de chacinas em presídios, chacina de famílias motivadas pela misoginia, de mães que perdem o direito de chorar pelo filho morto e de mulheres que são enganadas e mortas sonhando em dar um enxoval a seu filho, quais são os corpos que importam em nossa sociedade? Nos Estados Unidos há um grande movimento gritando “Black lives matter”, isto é, “vidas negras importam”. Eu segui uma trilha para refletir daqui do meu cantinho a respeito dessa afirmação e espero que minha trilha também estimule a reflexão de vocês.
Tudo começa e termina no corpo, é ele a nossa primeira morada, antes mesmo da casa e do mundo, é dele que a gente não pode se desvencilhar, é nele que contamos uma história de muitas vidas, através de nossas características como cor, cabelos, estatura, peso. Dele e também dos nossos genes que carregam a herança de toda nossa linhagem familiar.
Pedagoga, psicóloga e uma das minhas musas inspiradoras, Azoilda Loretto da Trindade, conceituando alguns valores civilizatórios afro-brasileiros, falou sobre a importância da corporeidade para os povos africanos e também para nós. Ela destacava que esses povos trouxeram suas riquezas no corpo, porque este havia sido o único bem que lhes foi permitido trazer. Os europeus que os trouxeram de lá vislumbraram apenas sua força de trabalho e, assim, os trataram como máquinas, como coisas, mas havia muito mais naqueles corpos, havia história, memórias, ancestralidade, formas, cores, línguas, havia a sacralidade daqueles corpos, e, por isso, segundo Azoilda, a corporeidade é um valor civilizatório importante.
Antes de conhecer outra pessoa, eu vejo o seu corpo, suas marcas, sua história contada através do cansaço de um ombro caído, vejo a alegria num semblante luminoso ou mesmo a tensão de uma testa franzida. O corpo também conta outras histórias, ele revela padrões impostos e, por meio dele, podemos também perceber que padrões são valorizados e quais têm sido marginalizados nessa sociedade.
E o que a nossa experiência em sociedade nos diz sobre nossos corpos? O corpo das mulheres vem sendo escrutinado, legislado, engessado desde sempre, não é à toa que, de forma geral, nem culturalmente nem legalmente temos direito a decidir o que fazer com nossos corpos, vide a lei que criminaliza o aborto ou os padrões estéticos impostos às mulheres que não observam a realidade brasileira e imprimem um modelo de mulher magra, branca, de cabelos longos e lisos, ou seja, tudo nos aponta para um modelo que exclui a maioria de nós, inclusive a dificuldade em achar diversidade de roupas interessantes acima do manequim 38. Ainda assim, estamos por aí, submetendo-nos a dietas malucas, expondo-nos a químicas agressivas para domar os cabelos, para moldar o corpo com cirurgias ou métodos invasivos e, dessa forma, tentarmos alguma aceitação externa.
O preço disso é uma desconexão total de nós mesmas, de nossas histórias, das formas corporais que contam as histórias de nossa ancestralidade, das marcas que nos fazem pertencer às nossas famílias, que nos lembram de respeitar as nossas origens. Clarissa Pinkola, em seu lindo livro ‘Mulheres que correm com os lobos’, dedica um capítulo ao “corpo jubiloso” e lembra que ele, o corpo, é um catalisador de todas as nossas experiências e nos informa
sobre cada uma delas.
Para a psicanálise, é a partir da imagem do corpo que constituímos o nosso “eu”, essa imagem seria introjetada desde fora, identificada internamente e depois, projetada pelo sujeito. Com a distinção que nossa sociedade faz a respeito dos corpos, percebemos o quanto isso pode afetar a construção de nossas subjetividades. Para os corpos perfeitos, tudo, para os outros corpos, a lei, o julgamento, os olhares, a reprovação, a marginalidade.
A psicanalista Neusa Santos Sousa, no livro ‘Tornar-se negro‘, trata dos obstáculos na vida das negras e negros em sua trajetória de subjetivação. Ela afirma que, nesta sociedade, no caminho da ascensão social, as pessoas negras precisam negar seu passado e seu presente: o passado no que diz respeito a suas tradições e histórias, e o presente referindo-se à negação da discriminação.
Ora, negar o passado seria distanciarmo-nos de tudo aquilo que nos constitui, as bases culturais e filosóficas de vários povos que, querendo ou não, estão presentes em nossos genes e em nossa memória ancestral. Significa esquecer, por exemplo, da cultura e filosofia iorubá, que, entre outras, chegou até aqui através dos corpos africanos e nos ensina que tudo no universo é divino e tem personalidade. Esquecer de Esù Bara (lê-se Exu Bara), uma divindade demonizada pelo olhar eurocêntrico e cristão, que seria o princípio dinamizador e também nosso Mensageiro. E sabe onde seria a morada desta divindade? O corpo! Esù Bara é o mensageiro divino que mora em nossos corpos e nos informa sobre nossa necessidade de movimento, descanso, informa sobre nossa totalidade e nos põe a caminhar. Eu ficaria linhas e linhas escrevendo sobre a importância de nos apropriarmos de nossos corpos, sobre nos integrarmos com nossa verdade interior, sobre olhar, aceitar e assumir o corpo que temos, mas, por hoje, vou escolher problematizar uma questão: se o corpo carrega algo tão importante como as memórias, não apenas de nós mesmas, mas de nossa ascendência (ancestralidade), o que acontece quando hierarquizamos os corpos que importam? Como essas regras se impõem a nós e quais as consequências para os corpos marginalizados?
Basta deslocarmos o olhar para fora e vemos corpos negros nas favelas sendo mortos pelo Estado, pela violência, pela fome, pela falta de perspectivas e qualidade de vida. Corpos negros nos presídios, em consequência da morte simbólica e/ou real nas favelas, corpos negros nas instituições psiquiátricas, adoecidos em sua saúde mental por não “se enquadrarem” na lógica do nosso mundo ou porque o mundo não tem lugar para eles, corpos negros sem educação formal e destinados, em sua maioria, a trabalhos braçais, corpos de mulheres negras grávidas violados para o uso e abuso de outrem, corpos negros hiperssexualizados sendo expostos em vinhetas carnavalescas, nos estereótipos objetificados criados pela mídia televisiva ou vendidos como “prato principal” do turismo sexual. Corpos negros nos lugares que não queremos ver, experimentar, pensar, no lugar daquele outro distante, no lugar daquele que não sou eu, do asco, do não humano.
E assim se constitui uma ideia sobre a população negra no Brasil. Nossa sociedade não está habituada a ver nem aceitar pessoas negras em lugares diferentes desses que mencionei, vejamos as dificuldades em aceitar pessoas negras nas universidades ou a entrada e atuação dos médicos e médicas negras estrangeiros. A ideia acerca da população negra num lugar de subalternidade é o que está cristalizado em nossa base cognitiva, ou seja, a maneira como adquirimos o conhecimento a respeito da população negra está marcada pela percepção que temos do mundo, por nossa memória e nossas referências socioculturais. No Brasil, isso tem a ver com aprender desde a escola que pessoas negras foram escravizadas, que não resistiram a isso, que essa escravidão foi abolida por uma princesa e, desde então, a população negra não fez nada a não ser “se vitimizar” como desculpa para não progredir.
Precisamos conhecer a história por inteiro, saber sobre as civilizações africanas que existiam desde antes da invasão europeia, a tecnologia que foi importada através do conhecimento desses corpos que foram escravizados, no âmbito da metalurgia, da agricultura, da medicina, conhecer as lutas do povo negro, a resistência dos quilombos, os movimentos negros atuantes e que influenciaram e influenciam nas lutas pelos direitos civis, direitos humanos e direitos das mulheres, conhecer nossos heróis e heroínas, nossos(as) cientistas, mártires, conhecer uma história que nos foi negada pelo racismo e que discriminou nossos corpos entre bons e maus, brancos e negros, visíveis e invisíveis. E, assim como fizeram com nossos corpos, também o fazem com nossas dores, com nossas conquistas.
Em setembro de 2016, eu tive a felicidade de ser convidada para falar no seminário ‘Ventres livres? Mulheres negras e maternidades’, realizado pelo grupo Intelectuais Negras, participei da roda de conversa “Territórios dos ventres livres e sexualidades”. Naquela ocasião eu pude falar sobre saúde, sexualidades e maternidades, assim mesmo, com “s” no final, pois acredito na diversidade, logo não haverá uma forma, nem um número limitado de formas de viver a sexualidade, a maternidade, a paternidade; não há limites para formas de viver, e toda forma de vida deve ser respeitada. Falei também sobre a importância de resgatarmos a sacralidade dos nossos corpos, não numa perspectiva engessada e judaico-cristã, mas de maneira a entender o corpo como nosso principal vaso alquímico. É a partir dele que experimentamos o mundo, que nos encontramos com os outros, que nos percebemos, que transmutamos todas as nossas vivências.
O corpo é sagrado e precisa urgentemente ser respeitado, não este ou aquele corpo, mas todos os corpos. Precisamos compreender todos esses processos que hierarquizam e escravizam nossos corpos e combater essa dicotomia que nos aprisiona, que nos divide e que segrega alguns grupos mais do que outros. O saber sobre nossos corpos, entrelaçados com nossas histórias e tudo o que nos constitui, abre a janela para um sem-número de possibilidades de ser, para nos enxergar como somos: únicos e ao mesmo tempo diversos.
Diante da questão sobre quais são os corpos que importam, me vejo em frente a tantas imagens de opressão, tantos preconceitos que apoiam um imaginário social e causam sofrimento a todas as pessoas consideradas fora do padrão. Nesse sentido, destaco a população LGBTTI, a população negra, as mulheres e, especialmente, as mulheres negras, grupo no qual eu me enquadro. Vejo que é urgente a necessidade de questionar e desnaturalizar os padrões que engessam nossos corpos. Nós precisamos criar um ambiente em que as várias maneiras de existir sejam respeitadas e apoiadas na multiplicidade e diversidade, talvez seja essa a quebra de paradigma que precisamos para termos uma experiência de viver em equidade, a experiência de respeito a todos os corpos e a todas as histórias contidas em cada um deles.
Curiosamente, ao buscar uma imagem para associar a este texto, encontrei esta foto da dupla de cantoras gêmeas Lisa-Kaindé e Naomi Díaz, que formam o Ibeyi, dupla musical de que gosto bastante e que recomendo ouvir. Elas trazem em suas letras e canções a ancestralidade afro-cubana, falando de suas divindades através da tradição lukumi, que seria a maneira cubana de cultuar as divindades africanas. O nome da dupla faz alusão à divindade que conhecemos, no Brasil, como Ibeji, os gêmeos divinos. A palavra significa, literalmente, “nasceram dois”. Como gêmeas, para sua tradição, elas também são a divindade na Terra. Nada é por acaso, pois é desse lugar de respeito à historicidade dos corpos que precisamos olhar para cada pessoa, devemos olhar o universo encerrado em cada sujeito e que se comunica conosco por meio de seus corpos onde estão tatuadas as suas memórias.
Nany Kipenzi Vieira é psicóloga, iniciada para Yewa, especialista em Clínica Psicanalítica, pesquisadora das relações raciais, de gênero, laicidade e liberdade religiosa.
Imagem: Pexels

Liberdade religiosa e os ataques a terreiros no RJ

Publicado originalmente no dia 13/09 no Medium.
“Discorrer sobre liberdade, quem tem direito a ela ou ainda se há liberdade possível em uma sociedade que se baseia em desigualdades torna-se um questionamento relevante sobre um tema atual que é o direito à diversidade.
A liberdade tal qual como conhecemos e evocamos é um conceito datado historicamente. A ideia de liberdade, segundo esse pensamento, também está atrelada a ideia de direitos, especialmente direito a liberdade de expressão, por outro lado, também coloca em tensão os limites destes mesmos direitos, uma vez que as liberdades individuais por vezes resvalam nos direitos coletivos.”
Este é um pequeno trecho do trabalho de final de uma disciplina do mestrado em Psicologia Social que comecei a cursar no semestre passado. Há mais ou menos dois meses atrás, eu me debruçava sobre o tema da liberdade. Naquela ocasião eu usei a liberdade religiosa para tentar traduzir estas tensões que mencionei e para falar do quanto somos atravessadas socialmente por valores coloniais que alimentam nossos pensamentos e práticas no encontro com o outro.
Sendo assim, a forma como entendemos as relações interpessoais, institucionais, sociais e políticas são perpassadas por alguns atravessamentos, entre eles, valores classistas, sexistas, racializados e também religiosos.
O Brasil nasceu como um Estado religioso e hoje, apesar afirmarmos a laicidade nos termos da Constituição, vivemos em uma sociedade religiosa. Este não seria um problema, poderia ser apenas um fato da história do país se houvesse liberdade religiosa, bem como, se houvesse o direito de não crermos em divindades superiores ou mesmo de duvidar da existência de um plano superior, mas não é o que ocorre.
Temos presenciado uma série de movimentos que apontam para uma onda de recrudescimento e conservadorismo, assistimos a um impeachment que não havia base legal para ter sido implementado, acompanhamos o aumento do feminicídio, temos visto opiniões religiosas influenciarem em decisões de Estado como descriminalização do aborto e das drogas, por outro lado vemos o entrave para criminalizar a homofobia, violência que mata todos os dias e observamos também de forma assustadora o crescimento da intolerância religiosa.
O que está em jogo é o ódio a tudo ao que não é hegemônico e a hegemonia é masculina, branca, rica, cristã e heteronormativa. Só no último mês tivemos um decreto no município do Rio de janeiro que dá plenos poderes ao gabinete do prefeito de liberar ou proibir qualquer evento na cidade, inclusive reuniões de cunho religioso em locais público E (atenção ao E) privados, ou seja, voltamos a década de 50 quando as religiões não cristãs eram perseguidas, antes pela polícia, agora há o decreto municipal.
Decreto nº 43.217, de 26 de maio de 2017, do Município do Rio de Janeiro
Art. 2º Para efeito do disposto no § 1º do art. 1º deste Decreto, considera-se evento, todo exercício temporário de atividade econômica, cultural, esportiva, recreativa, musical, artística, expositiva, cívica, comemorativa, social, religiosa ou política, com fins lucrativos ou não, que gere:
I — concentração de público, em áreas abertas ou fechadas, particulares ou não;
II — intervenção em logradouro público, ainda que não enseje a hipótese do inciso I;
Art. 4º Competirá ao Gabinete do Prefeito a outorga da autorização de que trata este Decreto e à Coordenadoria de Licenciamento e Fiscalização — CLF — a ação fiscalizatória sobre as atividades desenvolvidas pelos particulares.
Parágrafo único. A gestão do sistema RIAMFE será exercida pela CLF ou pelo Gabinete do Prefeito.
Nos últimos 30 dias também vimos uma idosa ser apedrejada em razão de sua pertença religiosa, assim como vimos uma criança sofreu a mesma agressão há dois anos atrás. Vimos religiosos no município de Nova Iguaçú, onde ocorreram vários episódios de intolerância religiosa, denunciarem e pedirem respostas a respeito desse tipo de violência e nos últimos dois dias tem circulado um áudio de uma religiosa alertando seus irmãos e irmãs de fé e um vídeo da coação de religiosos de matrizes africanas e depredação de espaço e símbolos sagrados.
Ora, conhecemos o argumento de que a viralização de imagens e áudios via redes sociais não consiste em provas suficientes para tomar providências cabíveis, mas assusta-me perceber que alguém se sente seguro o suficiente para gravar imagens como aquelas que vi e sair impune. Assusta perceber que não há comoção uníssona de religiosos de todas as denominações contra esse tipo de prática, assusta ainda mais perceber que é justamente o discurso religioso de determinadas vertentes que fomentam esses atos.
Estamos aqui nessa encruzilhada, diante de padrões construídos historicamente e socialmente que atravessam nossas subjetividades, diante também da violência, do desrespeito, da barbárie, da submissão do outro, de um povo, de suas práticas sagradas. O que faremos? Como nos posicionamos diante desse caos?
O caos não mora ao lado, não atinge somente ao terreiro alheio, a religião alheia, a quem está fora do padrão. Essa violência fere a todos e todas, porque fere o direito a liberdade, o direito à diferença.
A liberdade (religiosa ou outros tipos de liberdade) não pode ser um privilégio de uma classe de pessoas, ela precisa estar pautada sobretudo no respeito. Precisamos olhar para estes fenômenos de frente e não nos calarmos, precisamos defender o direito a liberdade em todos os níveis.
Em um ano perdemos muito, são golpes e mais golpes e se fecharmos os olhos, podemos acordar amanhã sem o direito a ter direitos.

domingo, 1 de janeiro de 2017

Sobre 2016 e a mágica do tempo


Foi um ano de me pôr à prova e ir com tudo, ir com medo mesmo, assombrada pelas tais crenças limitantes que vivem em nós como a insegurança e o medo de rejeição. Por outro lado também precisei lidar com o enfrentamento do racismo que nos assola a cada dia e a parcela dele que vive em mim e as quais eu trabalho todos os dias para reconhecer e me libertar. 

Sabe, eu sempre me considerei uma pessoa ousada, uma mulher aberta a mudanças (e sou mesmo!), mas neste ano eu descobri o verdadeiro prazer de ousar, porque ousadia não é só quebrar padrões que choquem os outros, mas é, principalmente, quebrar os padrões internos, se testar, se questionar e aceitar o desafio de ir adiante, foi uma experiência linda, nem sempre deu certo, mas, percebi que fracasso é uma ilusão que a sociedade inventa para nos colocar medo e/ou cabresto. Pois é, NÃO EXISTE FRACASSO! A gente sempre ganha alguma coisa quando se arrisca, seja mais confiança, sejam aprendizados sobre como fazer melhor da próxima vez ou sobre o que não fazer, sejam pessoas que chegam através das experiências e até podemos chegar ao objetivo almejado. Mas não tentar é a morte, é a inércia. 

Eu seria leviana se falasse mal de 2016. Sim, foi um ano péssimo para o meu país, para os que lutam contra as desigualdades raciais, de gênero, sociais e para os que acreditam nos Direitos Humanos para todas as pessoas. Este foi um ano de retrocessos cruéis, muitas portas se fecharam e a gente vai precisar ser muito criativo para derrubar essas paredes e resgatar o que é nosso. Há muito ainda que conquistar também. 

É óbvio que as políticas macro e essas tragédias me afetaram e continuarão afetando, mas 2016 foi o ano de solidificar pensamentos acerca dessas questões. Eu já não acreditava em políticas macro, principalmente porque qualquer direito adquirido ou conquistado sempre chega a população negra de forma enviezada, minimizada, tosca e isso não é impressão, as estatísticas mostram isso. É importante lutar pela manutenção de direitos e conquistarmos ainda mais, porém minha luta é no campo da micro política, na formação de redes, no corpo a corpo. É falando com minha mãe, minhas tias, minhas primas e primos, compartilhando com amigas e amigos, falando nas escolas, para colegas de profissão, é voltar para academia (universidade) para colorir aquele pensamento e pensar em influenciar aquele espaço neste sentido também.

A gente reclama do ano, da política, da população sendo massa de manobra, mas somos nós que fazemos isso, nós somos os coxinhas, somos a esquerda caviar, somos pão com mortadela, porque este povo somos nós. Não adianta falar do Brasil, como se fôssemos alienígenas. Vamos nos perguntar: O quanto estamos nos doando para mudar nosso próximo/a?

Falar desse outro indefinido é bem mais cômodo, mas entrar no embate com a tia ou com o primo na mesa do jantar é que abre estradas para novos pensamentos. Esse ano eu bati o pé em relação a isso, eu me dispus ser criticada ou parecer arrogante quando falo aqui no Facebook e em qualquer lugar que não assisto TV, por exemplo, parece bobagem, mas não é. Com isso eu estou marcando uma posição política de recusar as informações pobres, distorcidas e manipuladas que nos são vendidas e estou abrindo um canal para que me questionem e reflitam. Eu dou minha cara a tapa ao discutir minhas posições políticas com meus familiares, questionar piadinha machista ou lgbtfóbica, desconstruir pensamentos sobre religiões não hegemônicas, afirmar meus pensamentos que divergem de amigas, amigos e irmãos de fé. Resumindo, 2016 foi o ano de “ser a pessoa que eu quero para o mundo”, foi meu mantra pessoal. Afinal, não adianta eu querer uma sociedade maravilhosa, um ano maravilhoso, se eu não for maravilhosa. Então, meu trabalho no ano que passou foi o de me tornar maravilhosa e ainda estou trabalhando nisso.

Eu redescobri e agarrei minha missão de vida no ano de 2016 e esse foi meu maior presente, não foi exatamente nada novo, mas foi o ano de assumir esse compromisso. Nós vivemos em um mundo onde as pessoas negras, quase todas, desejam serem invisíveis, querem ser deixadas em paz para viver suas vidas, porque o racismo é atroz, mas isso tem consequências para nossas subjetividades, a gente se apaga, se esconde, se submete a padrões que marcam nossos corpos e mentes. E este ano eu, definitivamente, decidi assumir meu lugar nesse mundo. Aceitei a missão de sair da invisibilidade e marcar a vida das pessoas, desse meu jeito tímido e falante, mas deixar marcas, trazer reflexões, porque abrir portas para mudanças me faz crer num futuro melhor.

Eu sou uma pessoa melhor depois de 2016, agradeço a minha mãe e toda a minha família pelas trocas, pelos risos, pelo suporte, pela força. Agradeço as minhas amigas (irmãs) e amigos (irmãos) pela caminhada lado a lado, pelas mãos que se seguram, pelas surpresas, pelos reencontros, pelo amor entre nós. Agradeço as minhas afilhadas e afilhados pela luz, pelo presente, por serem as vozes de Deusas e Deuses a cada áudio, foto, chamada em vídeo, em cada abraço e as lindas sobrinhas e sobrinhos que me deixam feliz e orgulhosa a cada conquista. 

E é por isso que chego em 2017 com o coração aberto para continuar a trilhar essa estrada de amor, de fortalecimento, de amadurecimento pessoal e coletivo. Estou pronta para fazer a colheita de tudo que tenho plantado e confiante de que haverá muitos outros aprendizados e. felizmente, a vida tem me preparado para eles.

Se eu tenho uma coisa a desejar pra vocês nesse ano é que se doem, doem a si mesmos, sua escuta, seu colo, seu riso, sua presença. Estar presente de forma inteira na vida, em cada situação, é a melhor experiência que podemos ter, faz momentos memoráveis, cria pontes, laços e retorna mais presença para suas vidas.

Sejam presentes e recebam os presentes que a vida sempre nos traz.
Felicidades pra vocês em todos os dias e todos os anos!

terça-feira, 8 de novembro de 2016

Crônicas da Serpente: sempre sobre Elas

Para quem não entende minhas "brincadeiras" entre irmãs e meu fascínio por COBRAS, SERPENTES e afins:
A Serpente é uma vítima de preconceito. As pessoas associam COBRAS a traição. É cultural, se sonham com cobra já pensam em quem está traindo, se detestam alguém, quase sempre do sexo feminino, qdo o sentido é pejorativo, chamam de cobra e similares. Enfim, a Serpente aparece como representação do que é mal, traiçoeiro, algo negativo. Até no mito cristão está lá a Serpente seduzindo "pobres seres inocentes" a traírem sua divindade.
Eu escrevi uma vez umas linhas que eu, ousadamente, chamei de "crônicas da Serpente". E eu dizia lá, baseada em pesquisas, que o veneno da cobra é apenas proteção e que ela não ataca ninguém a não ser para defender a si mesma ou ao seu território.
A Serpente em várias tradições é símbolo de RENOVAÇÃO e de TRANSMUTAÇÃO, tanto que ela esteve na cabeça de Ísis, está no caduceu, símbolo da Medicina e o 'ouroboros', a cobra que engole o próprio rabo, é símbolo de início e fim, ou seja, a eternidade.
Além de tudo isso e, principalmente, por conta disso, para mim a maior motivação para meu fascínio é que sou filha de Iyewa, um orixá da cosmologia africana para a qual sou iniciada há 9 anos.
Os orixás são reverenciados na Natureza, eles e elas SÃO Natureza e tudo que há nela. São fogo, vento, rio, guerra, saúde, doença, vida, morte, caça, folha, sabedoria.
Esta Deusa, minha Mãe, é Transição. Ela está em todas as transições, em tudo que é etéreo tb. É a deusa da beleza, uma deusa caçadora, que se cobre com Palha, que vê o mundo, porque nunca dorme e que é bruma encantada, uma Serpente linda e protetora de suas filhas.
Eu sou apaixonada por Iyewa, sou apaixonada por Serpentes. Ela ensina no silêncio, às vezes na dor necessária. Ensina que tudo é transitório, tanto que Ela muda de pele.
Eu mudo de pele e isso não é alegoria. As pessoas mais próximas sabem que esse é um fenômeno anual e eu estou no meio dele. Todos os anos, mais ou menos entre julho e setembro, isso acontece. Desde antes de eu ser iniciada.
A Serpente Iyewa mora em mim de um jeito que não me cabe, transborda. Eu já tive medo disso e hoje, já não sei dizer o quanto dEla é meu e o quanto de meu é dEla.
Eu não pretendo mudar o que as pessoas pensam sobre Serpentes, seria muita pretensão minha mudar toda essa construção social. Nem me ofendo quando as pessoas fazem essas metáforas. Só estou aqui dizendo que as coisas não são como parecem. Tô aqui pra dizer que quando eu clico no botão "amei" quando algo se refere a Cobras é pq realmente as amo.
E ser associada a uma Serpente, para mim, é motivo de orgulho. E, definitivamente, traição é algo que não se aplica ao meu dicionário, digo isso sem sombra de dúvida. Silenciosa sempre, traiçoeira nunca.
Por fim, gostaria apenas convidar a todas as pessoas a conhecerem mais sobre as cobras, o aprendizado que se tem com elas é algo que nos ensina a superar, a calar, a sermos livres e cuidar de nossas próprias vidas e espírito, porque quem rasteja, sabe bem o sacrifício que a estrada traz ao caminhar.

domingo, 3 de julho de 2016

Só a Música (e a escrita) ME salva!

Eu não me considero fã número 1 de nenhum cantor ou cantora em especial. Digo isto pq não sou de assistir a todos os shows, nem saber cada detalhe da vida de determinada/ o artista, me apaixono pela obra. Mas há alguns que têm um lugar certo no meu coração.

Chico Buarque, Caetano, Djavan e Gilberto Gil são especiais pra mim, só falando das vozes masculinas. Chico e Caetano então... amo muito.

Eu já fui "vizinha" (hahahahaha) do Chico Buarque. Na verdade eu morava no Minhocão e ele no Alto Leblon. Meus amigos de apartamento sempre o viam pelas ruas e eu nunca, era uma frustração.

Eu tinha a fantasia de passar perto dele e cantarolar:

"Os letreiros a te colorir,
Embaralham a minha visão
Eu te vi suspirar de aflição
E sair da sessão, frouxa de rir"

Loucura, eu sei, mas este é o trecho de uma das músicas que mais gosto dele, "Vitrines".

Até que um dia eu vi o Chico, eu já não morava mais no Minhocão, mas na Marquês de São Vicente que é pertinho tb. Eu o vi na calçada oposta, ainda longe. Atravessei, claro!

E ele veio apressado, boné e olhos intensos. Ele vinha, vinha e eu fiquei capturada nas vitrines daquele olhar. Esqueci da música, esqueci da letra, esqueci do momento.

E Chico passou.

Mas por quê falar disso agora? Porque lembrei que música me salva, que elas embalam minha vida. Lembrei tb que naquele dia me dei conta do motivo pelo qual eu amava aquela letra. Porque ela falava de olhar. De um olhar endereçado, mas no caso da música, não retribuído. E do quanto era e é preciso refletir sobre esses endereçamentos e as expectativas que criamos em relação aos olhares dos outros.

Eu não cantarolei para o Chico, mas experimentei exatamente o que Vitrines propunha, fui capturada por aqueles olhos e pude repensar meus endereçamentos e projeções.

Óbvio que certamente eu não faria isso, não ia cantar coisa nenhuma. Era uma fantasia que, incrivelmente, se transformou em experiência.


07/06/2016

sexta-feira, 22 de abril de 2016

Despertar - Nove anos com Ela e Eles


E antes de tudo era o Caos.
A sombra, o escuro, a noite, as vozes indiferenciadas, os sons.
Seria música? Palmas, brados, ruídos?
Seria dentro ou fora de mim?
Que som é este que bate dentro do peito?
Batida ritmada de fora pra dentro e que retorna com uma expressão divina de dentro pra fora.

E do Caos nasce a Luz.
Ainda que seja a luz de uma tímida chama.
E sob a Luz se descobre que aqueles sons eram cantigas.
Mas não as cantigas de ninar que conhecemos.
Eram cantigas de acordar.
Acordar do sono, acordar a alma, pra nascer do Caos.
É, esse bebê que outrora nascia ouviu cantigas para acordar.

E  a Luz se fez, a cada passo, a cada tropeço,
A cada riso, a cada lágrima e cada silêncio foi feito de luz.
Silêncio rompido pelos sons das vozes,
Dos que vieram antes, dos que vieram depois,
Das vozes que falam dentro e fora de mim e que agora me acompanham vida afora.

E essa luz que brota do Caos, que ilumina o Caos
Nunca mais me permitiu sucumbir às sombras,
Ainda que eu a reconheça.
De olhos fechados Ela me ensina olhar além.
E assim, nessa vida renascida,
São anos de Caos e Luz.
Desde então deixei de ser sozinha.
Porque eu sou Uma com a Deusa que me tem.


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Nove anos de afetos, desafetos, de descobertas, de família, de amor e fé.
Nove anos que Sango, Yewa, Omolu e Oxalá, decidiram caminhar juntos.
E assim vamos!



domingo, 10 de abril de 2016

Notas, apenas notas.



Desde que decidi me olhar com os olhos de Verdade muita coisa mudou.

As escolhas se tornaram bem mais difíceis, re-conheci o significado da palavra "desapego", porque era necessário desapegar-se de mim, de outros, de coisas, pessoas e situações que me eram caras, ou próximas, ou cômodas, algumas bem importantes.

Mesmo que eu seja essa eterna mutante, ainda assim, foi difícil.

Caminho árduo, árido, solitário, às vezes, mas a solidão nunca me amedrontou.

Foi tempo de subir a montanha e observar. Me observar e observar tudo e todos, todas. E, sendo filha da Senhora dAquela que nunca dorme, vi muita coisa.

É, não foi fácil, nunca mais será fácil, há dias que finjo esquecer, me faço tola, me entretenho com algo, mas em um instante vejo tudo novamente.

Dias tensos estes, mas dias de Verdade, fazer o compromisso de não mais mentir sobre si mesma, era o tipo de paz que eu merecia ter.

E essa paz, bem, essa Paz ninguém me tira mais.

Nany.